ALMANAQUE BAIANO

13 de fevereiro de 2013 \\ Almanaque Baiano

Citação da Semana
“Pior do que este Parlamento, só um Parlamento fechado”. Deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), após as eleições na Câmara e no Senado.

Os inimigos da saúde pública
O governo do estado da Bahia sucateou o Hospital Clériston Andrade, tanto esse vergonhoso do PT, como os vergonhosos do passado, porque sempre foi interesse de todos eles que a saúde pública seja vista como um fracasso, que os serviços de saúde públicos não funcionam, têm péssimos gestores e profissionais marginais que não trabalham, para que com o crédito da sociedade transfiram o dinheiro público para as iniciativas privadas, sem controle, sem fiscalização, gastando de acordo com seus interesses, os quais nunca foram os interesses e necessidades reais da população.
A saúde pública não dá lucro, proteger, promover e prevenir não dão lucro, dá lucro tratar doenças, por isso mesmo sempre se esforçaram e com êxito para que a população não tenha saúde, mas sim doenças, para que lucrem através de consultas, internamentos, tratamentos, medicamentos, exames, como uma grande máfia a favor do mercado e contra a saúde da população.
E desde quando a área privada mostra competência e excelência? O Hospital Espanhol em Salvador vive uma grande crise, os hospitais privados de Feira de Santana prestam precários atendimentos, o Hospital Estadual da Criança (HEC) em três anos sob administração das iniciativas privadas, falsas organizações sociais, não mostra qualidade e excelência.
Nós servidores do Hospital Clériston Andrade, estatutários, sesabistas, como nos denominamos, estamos em estado de choque com a decisão desse “horroroso” governo de que nossa instituição, onde atuamos há 1 ano, 2 anos, 5 anos, 10 anos, 15 anos, 20 anos, 25 anos, 29 anos, de entregá-lo à iniciativa privada porque, segundo sua duvidosa avaliação, o único jeito de salvar o hospital é transferi-lo da gestão pública para a gestão privada, no modelo PPP que fracassou na Inglaterra e Portugal, mas que esse governo baiano insiste em trazer para o nosso estado.
Incompetentes são eles, os gestores centrais, Governadoria, SAEB, SESAB, os políticos que interferem na administração, mas não os diretores que não têm a autonomia necessária para dirigir a unidade, que não são eleitos pelos trabalhadores e população usuária, não são incompetentes, também, os trabalhadores que mesmo com baixo dimensionamento de pessoal, elevada jornada e sobrecarga de trabalho, mais as precárias condições de trabalho, com falta de material, de recurso, péssimas instalações físicas, continuam a trabalhar e cuidar dos pacientes lá hospitalizados.
Aliás, eles, os inimigos da saúde pública, não são incompetentes, ao contrário, são muito capazes e eficientes, estão sendo competentes em negar a saúde pública, em destruir os hospitais públicos, em dar “de mão beijada” o dinheiro público para o setor privado, em convencer a mídia e a população de que eles é que estão certos e nós os trabalhadores de saúde, é que estamos errados e não prestamos!
Mas, nós os trabalhadores de saúde do Hospital Clériston Andrade temos sim a nossa responsabilidade, afinal ficamos todos esses anos trabalhando sem reclamar, sem dividir com a sociedade e com os órgãos competentes as nossas dificuldades, as nossas mazelas, ficamos trabalhando e prestando assistência com erros e acertos, empenhados em não fecharem as portas do hospital para a população, mesmo quando parecia que estavam todos contra nós!
Nós, trabalhadores do HGCA estamos esses anos todo trabalhando com dobra de plantões por número insuficiente das equipes, pelas escalas não completas; trabalhando com eminente ameaça de incêndio porque há uma velha e péssima instalação elétrica; trabalhando com portas quebradas, fechaduras enferrujadas, peças de banheiros quebradas, tetos mofados; trabalhando com falta de antibióticos, com falta de esparadrapos, de gazes, de tantos outros materiais…
Nós trabalhadores mesmo doentes, cansados, esgotados, estressados, sobrecarregados, violentados, e aí muitas vezes, infelizmente, violentando, continuamos a trabalhar, quando deveríamos ter clamado à população apoio para revertermos à situação de abandono, descaso que o governo imprimia ao hospital. Acho que ingenuamente acreditávamos que tudo iria melhorar, que quando tivéssemos um governo representante do povo e da classe trabalhadora tudo iria mudar, como podemos ser tão ingênuos, tão infantis, como podemos ignorar todos os sinais, como podemos não ter considerado nosso saber, nossos estudos e pesquisas, nossas vivências e experiências? Como podemos deixar os nossos inimigos no poder? (Thyca Freitas é professora Universitária)
 

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