FICO FELIZ QUE NÃO SOU O ÚNICO
O final do mês de agosto trouxe uma notícia muito animadora. Pelo menos vejo que minhas teses sobre o uso dos videogames não estão erradas. Foi divulgado a última semana de agosto mais um estudo científico mostrando que os videogames fazem bem às crianças. Fazem bem! Pesquisadores da Universidade de Oxford concluíram que jogar videogames diariamente, em doses moderadas, melhora a sociabilidade, facilita a conquista de amigos e pode diminuir a hiperatividade.
Não é a primeira investigação que aponta nessa linha. Por exemplo, um grupo de pesquisadores alemães concluiu que os videogames estimulam diversas regiões do cérebro, ligadas à formação da memória, à navegação espacial, ao planejamento e a habilidades motoras.
Para o neurocientista americano Michael Merzenich,reconhecido estudioso da neuroplasticidade, “cada vez há mais evidências de que o uso de videogames resulta em melhoras significativas na função cognitiva” (“Brainson videogames”, na NatureReviewsNeurosciense).
Por tudo isso, não estamos longe de ter games nas salas de aula. Uma escola em Estocolmo, por
exemplo, incluiu o Minecraft no currículo. Os alunos discutem, a partir do jogo, aspectos de planejamento urbano, sustentabilidade e questões ambientais. De acordo com os professores, os estudantes se mostraram mais motivados, pois o aprendizado passou a incluir elementos lúdicos e divertidos.
Bem utilizados, os jogos eletrônicos, mesmo quando não são classificados como “educativos”, podem desenvolver o espírito de equipe, a atitude empreendedora, a coordenação motora, a concentração – componentes fundamentais na educação de hoje.
Além disso, as tecnologias podem ajudar a promover experiências de aprendizagem, já que se adequam ao ritmo dos estudantes, dão feedback imediato de acertos e erros e envolvem os usuários de tal forma que estes, mesmo falhando, desejam insistir para passar de fase e encarar desafios ainda maiores.
Aplicados à educação, esses elementos podem ser altamente positivos.
Tudo isso pode representar um alívio para os pais mais preocupados com a forte atração que seus filhos sentem pelos jogos eletrônicos. Mas é preciso fazer a ressalva de que, para trazer estes benefícios, os games precisam ser bem utilizados, sobretudo quando falamos de crianças.
Em primeiro lugar, convém aos pais selecionar games que estimulem conhecimento, sem conteúdos de violência. Na Colômbia, este ano, um interessante projeto chamado “Mudança de Jogo” premiou games que não tivessem sangue correndo como parte do entretenimento. Um dos vencedores traz personagens-insetos que trabalham pelo bem-estar coletivo e o adeus às armas. Outro é uma disputa que busca romper preconceitos baseados na aparência. Vale a pena que os pais dediquem um tempo a encontrar jogos nesse estilo.
Um segundo ponto importante é o tempo que as crianças passam nos videogames. Um estudo britânico mostra que há crianças ficando até 16 horas/dia em frente ao monitor. Os excessos porem ser prejudiciais.
O ideal é estabelecer o limite de uma hora por dia, equilibrando os jogos com outras atividades. Vale evitar que a criança leve games para lugares onde deveria prevalecer o convívio social.
Um terceiro ponto: os pais não deveriam pensar que resolvem tudo simplesmente dando aos filhos aqueles jogos classificados como “educativos”. Até porque nem todos eles têm, de fato, uma clara função pedagógica.
Para ser mesmo educativo, o jogo deveria partir de um design didático claro, com ações ligadas ao desenvolvimento de competências e etapas cognitivas cuidadosamente projetadas. Educação envolve sistemas formais desenhados especificamente para passar valores, uma herança cultural e conhecimentos. Poucos jogos podem, hoje, ser enquadrados nessa linha. A relação entre os estudos acadêmicos sobre as melhores formas de aprender conhecimentos e valores e a indústria dos games ainda é incipiente e deveria ser estimulada.
Diante disso, a melhor opção para os pais é avaliar, com o maior cuidado possível, a proposta de cada jogo e, quando necessário, pedir orientações a especialistas.
Então, o que não devemos esquecer? Os jogos eletrônicos estimulam a inteligência, mas não garantem melhor desempenho na escola, até porque tomam tempo do estudo. Procure o equilíbrio ao usá-los e evite os excessos.Escolha com cuidado os games que dará ao seu filho, preferindo os que estimulam conhecimento, têm conteúdos pertinentes e pouca violência.As experiências de aprendizagem proporcionadas pelos games podem ser enriquecedoras e envolventes, mas não substituem o ato de brincar no mundo real, a prática de atividades físicas ou a convivência com amigos, igualmente importantes para o desenvolvimento da criança.