A CAIXA PRETA
Edvaldo da Silva, 19 anos e Elizeu Freitas, 18 anos, colecionaram vários assaltos bem-sucedidos. Num assalto a uma casa lotérica acabaram dando-se mal. Pediram várias cartelas e tentaram a sorte. Passados uns minutos anunciaram: é um assalto! Recolheram o dinheiro do caixa e dos fregueses e fugiram. Horas depois foram presos.
A POLÍCIA garante que não existe o crime perfeito, sempre sobra alguma pista. No caso, os dois assaltantes haviam preenchido corretamente a cartela do jogo e, através dela, a polícia chegou a sua casa. Com eles estava o dinheiro da casa lotérica e os pertences das vítimas.
OS AVIÕES carregam consigo a chamada caixa preta. Ela registra o que acontece no bordo. Nos acidentes aviatórios, a caixa preta revela as circunstâncias e as causas do desastre. Algo parecido existe no ônibus. É o tacógrafo que registra os incidentes do percurso.
NÓS TAMBÉM carregamos conosco uma caixa preta. É a consciência que registra tudo o que acontece e suas circunstâncias. Esta caixa preta é inviolável e revela seu conteúdo unicamente ao portador. Por vezes até conseguimos acomodar nossa consciência com os mais diferentes argumentos: isto ninguém mais faz, ou todo mundo faz. Outras vezes, por um processo de legitimação queremos que ela declare certo o que está errado, ou errado o que está certo.
MESMO que exista um crime perfeito, que jamais seja descoberto, nós sabemos, temos consciência daquilo que fazemos. A esposa pode nunca desconfiar da infidelidade do marido, mas ele sabe. E no dia do Julgamento Definitivo, não será Deus quem nos acusa. Nós mesmos faremos isto. Como no caso da agência lotérica, nosso nome registra cada uma de nossas ações. Todas as nossas atitudes carregam nossas impressões digitais.
SOMOS livres e, portanto, responsáveis pelas nossas atitudes. Mas esta liberdade pode também ficar viciada. Podemos deixar que determinada atitude seja mais forte do que nós. Felizmente, a misericórdia de Deus é infinita e nos oferece o perdão. Ele nos permite mudar a cada momento. Nossa vida é a soma de nossas decisões. Não das decisões tomadas ontem, mas das decisões que tomamos hoje.
Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano