O joio e o trigo
Na última semana foram divulgados dados econômicos nada animadores. A indústria brasileira agoniza com uma queda acumulada de 6,3% no primeiro semestre do ano, segundo dados do IBGE. O desempenho negativo atual está mais acentuado e sedimenta a fraqueza e perda de competitividade que o setor enfrenta há pelo menos cinco anos. A indústria nacional tem muitas empresas que se destacaram na última década, mas em conjunto o parque fabril está sem capital, sem inovação, sem investimento e sem expansão de mercados. O histórico recente explica muito o quadro recessivo atual. Para a Fundação Getúlio Vargas, a recessão na economia brasileira começou no segundo trimestre de 2014, finalizando um período de expansão de 20 trimestres seguidos. A análise foi feita pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da FGV – um grupo formado para avaliar os ciclos econômicos do país. Há uma semana o economista Claudio Adilson, da MCM Consultoria, escreveu um artigo para responder à questão: a crise que enfrentamos agora é cíclica ou estrutural? Para Adilson, ela é cíclica. Com o ajuste em curso, em um ou dois anos o país reencontrará alguma recuperação. O economista ainda cita o plano de concessões e a correção dos preços relativos como parte do caráter cíclico da recessão. O Brasil caminha por uma trilha arriscada e perigosa para a economia que pode causar danos prolongados ao bem estar das famílias e ao desempenho do setor produtivo. Perder o grau de investimento, uma ameaça já sinalizada por agências que classificam o risco dos países, é apenas atravessar uma fronteira que separa o “joio do trigo” no mundo financeiro – sem a nota positiva, nós vamos voltar para junto dos “joios”. Enquanto damos passos receosos para um futuro incerto, o Banco Central navega com uma determinação que levanta a dúvida: de qual país eles estão cuidando? Pela sétima vez consecutiva o Comitê de Política Monetária decidiu pela elevação dos juros, chutando a taxa básica da economia para 14,25%. A decisão já estava cantada em verso, prosa e jornais. Os diretores do BC vêm falando mais do que a boca para reafirmar sua postura “responsável” e “vigilante” para lidar com uma inflação que beira os dois dígitos. Para quem chega agora por aqui deve pensar que temos um BC responsável porque, afinal, ele está fazendo o que é preciso para baixar uma inflação muito alta. Em cinco minutos de conversa com o forasteiro ele já vai entender que este é o mesmo BC que deixou o IPCA ultrapassar os 9% ao ano. É o mesmo BC que levou a taxa de juros para 7,25% enquanto a inflação rondava 6% e o país vivia o chamado pleno emprego – mão de obra escassa e cara. É o mesmo BC que passou um ano subindo a taxa básica de volta e a expectativa para os índices de preços só fizeram piorar. A dose que o Copom impõe à economia hoje é muito mais subjetiva do que técnica. Na teoria, os juros sobem para inibir o consumo, restaurar a formação de preços e aplacar o ciclo de alta da inflação. No Brasil, o PIB está negativo; o consumo das famílias, em queda; a formação de preços, totalmente distorcida pelos tarifaços, desonerações de impostos setoriais, legislações amontoadas para regular as relações de trabalho e um “custo Brasil” que consumiu a competitividade da economia nos últimos anos. A subjetividade da decisão do Banco Central é uma tentativa de recuperar a credibilidade perdida na metade desta década. Não há teoria ou modelo econômico que consiga apontar, com um bom grau de segurança, os efeitos que serão gerados por juros estratosféricos num país que caminha para se isolar do mundo financeiro. É certo que a inflação vai cair nos próximos 12, 15 meses – mas a que custo?