Educação contra a violência
Na última semana, o Colégio Estadual Gentil
Paraíso Martins, em Valença, há 198 km de nossa Feira de Santana, deu uma aula
de cidadania ao conduzir mais de 80 alunos a Câmara de Vereadores onde os
mesmos puderam, junto àqueles parlamentares municipais, debaterem a segurança
pública. A iniciativa, além de ser importante por estimular a participação
política dos adolescentes, foi marcante por ser capaz de fomentar mais uma
chama contra esse mal que deturpa a sociedade atual: a violência.
Quando minha esposa começou a trabalhar na
alfabetização, lembro que certa vez o desenho de uma criança nos preocupou: ao
lado da escola, pedestres fugiam de homens armados com fuzis. Havia pessoas
feridas, balas passando sobre as cabeças e muitos borrifos de sangue. Uma criança
chorava ao lado do pai morto. A cena era de um tom vermelho assustador. Na
época, minha esposa conversou com a família, que relatou que o menino andava
agitado. Orientou que os pais ficassem atentos e, eventualmente, procurassem o
apoio de um especialista.
Os anos passaram e, lamentavelmente, desenhos
desse tipo foram se tornando cada vez mais comuns nas turmas infantis. A
violência – não aquela divertida, dos filmes de aventuras, mas a do pavor
cotidiano de ter a vida de parentes e amigos em risco – passou a ser
retratada diariamente.
Nunca trabalhei com as séries iniciais do
Fundamental, mas sou testemunha de que nas redações dos alunos que cursam entre
o 8º e 9º ano relatam explicitamente seu temor em situações corriqueiras, como
no simples atraso de seus pais no retorno às suas casas no final do dia. Vi
crianças chorarem de apreensão, no recreio, quando os pais não atendiam o
celular. Uma das mães pediu que a escola lhe permitisse enviar uma mensagem à
filha cada vez que ela chegasse ao trabalho, mesmo que fosse durante a aula,
caso contrário a menina não conseguiria prestar atenção na matéria.
Segundo pesquisa divulgada em julho pelo
Ibope, 61% das crianças e adolescentes de São Paulo sentem medo de violência e
roubo. Mas, acredite aqui na Bahia, apesar da falta dos dados do IBOPE, é fácil
perceber que não vivemos uma realidade diferente. Numa caminhada pela paz numa
cidade dosul do Estado, em março, as crianças participaram de mais um protesto
após a morte de um garoto de 10 anos, que foi baleada enquanto brincava na
porta de casa. As imagens surpreendem quando se pensa na infância como o tempo
da brincadeira, da leveza, do mágico despertar para o mundo.
Qual mundo? Este que inventamos está longe do
que gostaríamos de oferecer aos nossos filhos. Como os ajudaremos a lidar com
essas realidades? Por mais que pareça difícil, em primeiro lugar, há que evitar
passar a eles os mesmos temores dos adultos. A criança precisa se sentir
protegida por pais e professores.
Longe de tentar parecer super-herói, o ideal é
conversar com as crianças e adolescentes, ouvir sua visão sobre os
acontecimentos, perguntar como se sentem, transmitir tranquilidade. Levar em
conta a idade deles, poupando os mais novos de notícias que possam assustá-los.
Explicar que todos somos responsáveis pela segurança, por exemplo em casa e na
escola. Mostrar que é difícil, mesmo para os adultos, entender que existam
pessoas que maltratem ou firam os demais. Não incentivar o acesso a armas –
mesmo de brinquedo – e defender que a violência nunca pode ser a solução dos
problemas. Com os adolescentes, refletir sobre a frase “A paz é fruto da
justiça”.
Há que observar o estado de ânimo dos filhos e
nunca recorrer a medicamentos sem orientação médica. Por fim, manter um
ambiente familiar de harmonia. Afinal, a paz também pode ser ensinada. Esse é
agora o nosso desafio: ensinar às crianças de hoje como construir um mundo
diferente.