IPMF: solução ou mais problema

22 de setembro de 2015 \\ Osmando Barbosa


As boas novas quando se fala em economia estão escassas. Começamos o quarto trimestre na seguinte situação: os juros já estão em 14,25%; o IPCA roda acima de 9%; o desemprego alcançou 6,5%; e o PIB, claro deve cair 2,30%. Nossas contas? Não só estão no vermelho como devem permanecer assim por pelo menos por todo ano de 2016 – vide proposta de orçamento de 2016 apresentada pelo governo, já prevendo déficit, ou seja, as despesas serão maiores que as receitas no ano que vem. 

Desde que começou a subir os juros no caminho de volta dos 7,25%, em maio de 2013, o BC vestiu a carapuça ortodoxa na tentativa de restaurar sua credibilidade, se apresentando como “vigilante e tempestivo” para controlar a inflação. Por enquanto, ele não conseguiu nem uma coisa, nem outra: não ganhou confiança e nem baixou a inflação. Nos últimos meses, para temperar o caldo, a estratégia do Copom vem sendo importunada com as derrotas do governo no Congresso para aprovação do ajuste fiscal, a reviravolta na economia da China, o rebaixamento da nota de risco do Brasil e, como consequência deste quadro, uma alta expressiva do dólar – o que coloca em risco uma queda mais consistente da inflação em 2016.

Enquanto o país se debate sobre a barafunda política e o desequilíbrio agudo das contas públicas, parece que as ações do Banco Central  foram colocadas ali num “canto da sala”, meio esquecidas, como se fosse um problema menor diante do cenário de crise. Não é. Até porque, Alexandre Tombini e sua equipe precisam ainda responder ao país sobre a sua responsabilidade na formação da pior crise que o país enfrenta em 20 anos.

É incontestável que eles não poderiam ter baixado os juros para 7,25% com a inflação distante da meta. Também é inegável a leniência da autoridade monetária com as pedaladas fiscais, o controle dos preços administrados e a concessão de crédito subsidiado pelos bancos públicos. As explicações dadas até agora em todos os documentos oficiais do BC para suas ações e perspectivas não justificam seus erros nem refrescam sua responsabilidade.

A recessão é oficial e real. As três atividades pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que representam as fontes de produção do país, tiveram desempenho negativo entre abril e junho deste ano. Indústria, serviços e até a agropecuária sucumbiram às forças desestabilizadoras que vêm conduzindo o país nos últimos anos. 

A corrosão dos setores produtivos do país está avançada e compromete qualquer estimativa de recuperação no curto e no médio prazo. Mesmo com resultado positivo no ano, a balança comercial tem hoje uma das piores composições da história recente, sem falar na queda sucessiva de participação do Brasil no fluxo mundial de comércio. A conta de investimentos, responsável por “adubar” o terreno para novos projetos e boas expectativas, arremata o cenário de debilidade da “máquina” nacional. 

O destaque negativo deste ano é o agronegócio brasileiro, considerado um dos mais avançados e produtivos do país. A economia internacional, a desaceleração da China, são também responsáveis pela queda na produção nos campos. Mas vai além disso. A competitividade conquistada nas duas últimas décadas também foi afetada pela desorganização macro e microeconômica do país. Infraestrutura precária e caríssima consumiram a margem de ganhos e competência que o agronegócio nacional sustentou diante de outros gigantes do planeta. 

A derrocada da indústria e esmorecimento dos serviços não surpreendem mas indicam que a correção do ambiente de negócios e do mercado de trabalho ainda está longe do fim. O desemprego deverá crescer muito mais para compensar o recuo nos dois setores – o que realimenta queda no consumo e, consequentemente, novas quedas na produção e na demanda por serviços e conforto. 

À crise dos fundamentos da economia, uniram-se as crises política, jurídica, institucional, corporativa, moral, de confiança e, derradeiramente, a crise das expectativas sobre o futuro do Brasil. A recessão não será curta, como muitos analistas já preveem. Ao refazer as contas sempre que os indicadores surpreendem negativamente, 2016 vai ficando cada vez mais comprometido, fortalecendo a previsão de dois anos seguidos de PIB em queda. 

Diante disto, cabe perguntar: a única proposta será o retorno do IPMF? Com a economia em recessão, mais um imposto não afetará ainda mais a produção?