Feliz dia do Amigo!
Soneto do amigo
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
Vinícius de Moraes
Não sei quantos de vocês, caros leitores, saberiam nesse instante que essa semana comemora-se o dia do amigo. Talvez aqueles que são professores da Educação Básica, ou que trabalham em alguma área onde, em seu dia a dia, são convidados a gerir pessoas. No entanto, posso afirmar que a grande maioria nem tinha noção antes de ler o título acima que estamos celebrando, mais precisamente nesta quarta, 20/07, o dia do amigo.
Vivemos hoje numa sociedade, em que a cada dia que passa é mais difícil manter amizades puras e verdadeiras. Demoramos anos a conhecer realmente a maneira de ser das pessoas, não nos abrimos, não dividimos, mal rimos com aqueles que nos cercam.
Amizade, no meu dicionário particular, é sinônimo de companheirismo, fidelidade, confiança mútua. Contudo, por incrível que pareça, hoje são poucos aqueles que podem orgulhar-se em dizer que têm a vida rodeada de amigos e pessoas que lhes querem bem.
Hoje vivemos na corda bamba entre duas facetas de uma mesma verdade.
Quando a “deusa da fortuna” nos agracia (e não falo só de dinheiro, claro), ou seja, estamos felizes, nossos projetos estão dando certo, estamos sendo bem vistos no trabalho, enfim, quando tudo nos corre bem, quando temos algo a oferecer aos outros, nossa caixa de mensagens do celular parece estar sempre cheia, temos a mesa de café sempre atolada, chegamos até a não ter tempo para estar com toda a gente. “Nossa”, como temos amigos!” (é o que pensamos). “Estes, nunca me deixariam sozinho”. No entanto, a realidade não é esta.
É justamente quando o cenário muda e aparecem as dificuldades, exatamente naquele momento em que pensaríamos nós que nunca estaríamos sós porque não nos faltarão aqueles que se sentavam conosco no café, que nos enchiam a caixa de mensagens do telemóvel, que nossos ditos amigos somem. Deparamo-nos apenas com uma ou duas pessoas que trocam o seu tempo para nos dar o seu ombro amigo para nós desabafarmos e estendem a mão para nos ajudar a levantar. E sabe o que é mais engraçado? Muitas vezes, não eram estes que mais valorizamos quando vivíamos o primeiro cenário.
É nesse instante que levantamos a cabeça e nos apercebemos que tudo o que demos e todos os momentos que partilhamos com aquelas pessoas não valeu de nada, fomos usados, porque só servimos quando tínhamos algo para oferecer.
E o pior, normalmente, nos revoltamos com a personalidade humana, nos fechamos, ou aprendemos a ser como aqueles que nos usaram. Um pensamento recorrente vem a mente de todos: “fomos usados durante uma vida inteira, usados por amigos com quem crescemos e percebemos que todos estes anos não valeram de nada, o que foi partilhado na infância não valeu de nada, porque afinal aquele que nos estendeu a mão foi o que conhecemos ontem”.
Vamos mudar essa realidade? Queria aproveitar esse espaço, para chamar cada um dos que acompanham essa coluna a mudar sua estratégia de vida. Que tal passar essa semana sorrindo mais, brincando em nosso trabalho, dando atenção ao nosso colega, sendo feliz e levando felicidade? Que tal se em vez de um simples e frio bom dia, sorríssemos ao abraçar cada colega e conhecido que encontrássemos durante esses sete dias que nos seguem? Que tal se não tentássemos culpar os outros, a vida e o mundo pelos nossos erros e frustrações? E mais, vamos fazer um acordo? Se depois de uma semana fazendo tudo isso, ninguém se sentir melhor, podemos voltar a ser os mesmos egoístas de sempre, mas se conseguirmos dar a nossa vida um melhor significado, continuaremos assim, fechado? Afinal qual o mal em ser feliz?