Economia é como futebol: uma caixinha de surpresas...
Parecia impossível de acontecer! Para muitos, até pensar no fato, seria uma heresia. No entanto, o inimaginável, o imprevisível, o insonhável parece estar acontecendo às economias mais desenvolvidas do capitalismo. O colapso financeiro que se iniciou em algumas nações da Europa se alastra para os países mais fortes do continente e a dívida pública americana sofre ameaças de rebaixamento e risco de calote.
No velho continente, bastou a crise na Grécia para que abalos profundos na confiança dos investidores fossem sentidos, ampliando a extensão da crise à toda a Comunidade Europeia. A cada novo prazo para liberação da ajuda financeira ao país, o custo de salvamento da Grécia sobe ainda mais.
E como falência econômica é igual a sarampo, eis que surge, a galope, mais uma vítima: a Itália. Com um agravante: a Itália é, economicamente, maior que Grécia, Irlanda e Portugal juntos, os três países que também lutam para manter-se de pé.
E quem diria, até a Espanha, dona da maior autoestima do planeta graças às inúmeras vitórias no esporte, foi atingida nesse turbilhão monetário. A economia espanhola que já incitava preocupações entre investidores está pagando bem mais caro para renovar os papéis da dívida pública no mercado financeiro, empurrando a nação ao mesmo precipício em que já estão seus quatro vizinhos citados.
Até o momento, desde que a crise na Grécia ganhou proporções assustadoras, a União Europeia parece estar refém da situação, incapaz de apresentar soluções de estancar a sangria que convençam os investidores.
A tensão entre os investidores europeus só aumenta. Está cada vez mais difícil prever o dia seguinte e nenhum investidor do velho mundo vê possibilidade de uma reversão do quadro atual a curto e médio prazo. O contágio, claro, começa a ficar cada vez mais forte.
Talvez seja a falta de precedentes históricos a maior culpada pela falta de solução à crise que ora se apresenta. Afinal, a ciência econômica usa sua experiência acumulada e observa o comportamento das variáveis micro e macroeconômicas em ocasiões diferentes da história. No momento, quando a experiência no passado não vale mais e as variáveis não representam a realidade, é muito mais difícil fazer previsões.
Por tudo isso, não serei eu a apontar como estará o cenário daqui a dois ou três meses no velho mundo. É difícil imaginar soluções consensuais diante de um quadro de tantas incertezas. No passado, nossas estruturas sobreviviam porque as crises não eram simultâneas. No entanto, estas antigas estruturas estão muito frágeis, não resistirão se não levarmos em consideração variáveis nunca antes discutidas.
Na terra do tio San, os americanos assistem atônitos, ao que lhes parece uma derrota na quadra de basquete: a dívida pública dos Estados Unidos cavalga a passos largos. Com uma diferença: nesse jogo, não bastará a entrada de um pivô grandalhão para que tudo se resolva. Acreditem, os EUA devem ao mundo cerca de U$ 14,5 trilhões! E o pior, precisarão aumentar ainda mais esta dívida para que seu governo tenha a capacidade de continuar estimulando a economia que se arrasta como uma tartaruga há aproximadamente quatro anos.
Contudo, uma grande diferença separa a situação norte-americana daquela que é vivida na Europa: a política. A oposição republicana aproveita a situação-limite para pressionar o governo democrata de Barack Obama. Hoje há mais interesse por parte da oposição em mostrar a inoperância do atual gestor quanto aos problemas econômicos do que ajudá-lo na solução dos mesmos.
No entanto, a maioria da população estadunidense acredita que, ao final, tudo vai se resolver no país porque nenhum político seria irresponsável de permitir o calote da dívida pública da maior economia do mundo. Como agravante temos o tempo, um dos maiores inimigos das finanças. Com o passar dos meses a conta a pagar torna-se cada vez mais cara. A cada nova reunião do Congresso norte-americano o que aumenta é o sentimento de que o mundo terá que esperar até o finalzinho do tempo-limite para que republicanos e democratas tomem as medidas que são importantes para o país.
E para você que está nesse momento torcendo contra, não custa lembrar, os EUA são nosso maior consumidor internacional. Nessa era de globalização, quando cai um elefante, coitados de nós, as formiguinhas.