Uma noite Inesquecível em Pituaçu!

14 de novembro de 2011 \\ Osmando Barbosa

Os campeonatos de futebol são feitos de partidas comuns, dessas que ninguém lembrará depois. A campanha do Bahia tem diversos exemplos disso: o triunfo diante do Atlético/GO no 1º turno, por exemplo, foi um 2 a 1 desses sem graça, daqueles que poucos torcedores lembram. Existem também partidas especiais. São aquelas que algumas pessoas lembrarão por certo tempo; quer um exemplo? O 3×0 do mesmo Bahia diante do Fluminense.

No entanto, existem partidas épicas, que nunca acabarão, serão eternas, farão parte do imaginário popular, servirão para sempre de exemplo de que tudo no futebol é possível. É nesta categoria que entram jogos como o Bavi de 94, aquele decidido aos 46 minutos de segundo do segundo tempo com gol de Raudinei e que deu o título ao Bahia; os 5×0 aplicados pelo Esquadrão de Aço diante do Santa Cruz  pela improbabilidade da classificação que só poderia ocorrer se este placar fosse alcançado e, mais recentemente,  o 4×3 aplicado de forma imprevisível diante do São Paulo. Vamos a ele?

É este tipo de jogo, com direito a virada histórica e heróica, que nos faz relembrar por que o futebol é um jogo apaixonante e por que o Esporte Clube Bahia arrasta multidões ao estádio. Você sabe há quantos jogos o Bahia não ganhava? Cinco jogos! Sabe quantas pessoas estavam no estádio? 35.000 pessoas, mais de 32.000 pagantes!

Mais que isto, jogos como este levam a torcida ao delírio, fazendo-os maximizar tudo que a agremiação tricolor representa em suas (em nossas) vidas. E olhe que todo este delírio foi precedido de um primeiro tempo normal e insosso, onde começamos até bem, mas após tomarmos um golaço caímos de produção e se não fosse Lomba seria ainda pior: 0×1 e intervalo. Foi então que começou o 2º tempo e com ele algo que ninguém aqui imaginaria: um jogo fantástico!

E tudo teve início com a entrada de Júnior. Este substituiu muito bem Gabriel, a ponto de em seu primeiro lance criar a jogada do empate. Logo no primeiro minuto, o “Diabo Loiro” tocou a Souza que fez um belo gol incendiando pela primeira vez a torcida em Pituaçu.  Mas, como nada com o Bahia pode ser tranquilo ou fácil, tal qual na partida anterior contra o Figueirense, tomamos outro gol quando ainda comemorávamos: 1×2. Na mesma hora pensei: “sai de Valença às pressas para isso, alegria de pobre dura pouco”.

Três minutos depois, Joel resolve piorar ainda mais o enredo: tira Magno e coloca Lulinha. A torcida pedia Lulinha, mas todos queriam dois meias em campo! E para quem achava que fundo do posso já havia sido alcançado, não é que o ex-Bahia Cícero, que, por sinal não jogava nada por aqui, acertou um chute de sorte (sua bola ainda tocou a trave) fazendo 1×3.

E as traves pareciam jogar com São Paulo!  Dez minutos depois, Júnior deu um belo chute de média distância. Onde foi a bola? Na trave. Mas para a gente, a mesma empurrou-a para fora. Aos vinte minutos do segundo tempo 34.500 tricolores baianos estavam “murchos”, quietos, cabisbaixos. Dava para ouvir os gritos dos 500 paulistas no estádio. Para eles o jogo estava decidido e nada os faria perder aqueles três pontos. Só para eles.

Em outro estádio, se fosse outro time a jogar, se estivesse na arquibancada outra torcida, o desânimo seria geral, as pessoas começariam a ir embora. Mas em Pituaçu, com o Bahia, é diferente.  A bola na trave não foi motivo de desalento, mas de esperança. De uma hora para outra a torcida começou a se inflamar e acreditar no impossível. Foi aí então que a estrela começou a brilhar. A de Joel e a do Bahia. Se em 94, Joel acertou com a entrada de Raudinei, desta vez foi Nikão o nosso Salvador! Finalmente eram dois meias em campo! Nosso Salvador entrou no lugar de Diones e no seu 1º lance cruzou na cabeça de Lulinha, 2 x 3. Eram 23 minutos do 2º tempo e a torcida fez Pituaçu balançar.

A partir daquele instante, se alguém passasse do lado de fora de Pituaçu e desconhecesse o placar afirmaria com toda a certeza que o Bahia aplicava uma sonora goleada em seu rival. Acreditem! Ainda perdíamos, mas o frenesi era tal que dava prazer em ser Bahia só por fazer parte daquela torcida.

Empurrado pela torcida, o Bahia partia pra cima, com tudo, me sentia em 88 assistindo Bahia e Fluminense naquela também inesquecível semifinal. Aquela massa merecia mais. E teve. Aos 27 minutos escanteio para Tricolor de Aço. Na cobrança a bola atravessou a área e sobrou para Souza, que cruzou com precisão para a cabeçada de Fahel: 3×3!
Nikão. Este é o reflexo do Bahia no jogo. Assim como o tricolor, ele estava no fundo do poço, estava tomando 3×1 na carreira, não era nem banco. Mas o Bahia é uma verdadeira lição de vida: ensina que não devemos desistir nunca do que a gente acredita! Quando tudo parecer perdido, acredite, você ainda pode vencer e fazer história.

E a virada veio! Após passe magistral de Junior, Nikão correu e cruzou no meio da área. Alguns vão dizer que o zagueiro do São Paulo tentou cortar e fez contra, mas isso é mentira! Mas após análise minuciosa cheguei a uma conclusão de que o feito foi proposital. Nikão cruzou com tamanha precisão que mirou de tal forma o pé do zagueiro pra bola desviar e matar o goleiro. E matar os são-paulinos, os pessimistas, os agourentos, a mídia preconceituosa, os torcedores da segundona. Nikão arrasou! 4×3!  

O Bahia derrubava outro gigante. O freguês São Paulo caia de novo, agora de quatro. E caiam também as lágrimas dos milhões de apaixonados tricolores, que não torcem para um time, mas fazem parte de uma nação que atende pelo nome de Esporte Clube Bahia!
A emoção não cabia em mim, nem em ninguém no estádio, pensava em meu pai e nas pessoas que amo e que também me fazem feliz. Olhava as pessoas em volta, os olhos brilhavam, todos orgulhosos, em êxtase, em transe, como se houvessem presenciado um milagre divino. E não foi?

Já na saída era só festa com a galera! Perdemos a noção do horário, a noção da felicidade. Ser Bahia é ser perfeito, mesmo com defeitos. Ser Bahia é ser feliz! Infinitamente feliz! Eu te amo, tricolor!