Aulas de Circo?
A novidade vem do Colégio Itatiaia, em São Paulo. Lá o professor Pedro Cauê Marques Levy transforma a área do recreio em picadeiro. Usando 15 tatames e algumas bolas, pratos de plástico e malabaresele dá início a sua aula de circo. Essas aulas, realizadas uma vez por semana na escola, durante 50 minutos, começaram em 2011 e, dois anos depois, o grupo já dobrou de tamanho.
Inicialmente oferecida como opção de atividade extracurricular em colégios particulares, as aulas circenses vêm ganhando espaço por engajarem crianças e adolescentes em exercícios físicos de forma lúdica e estimularem a concentração, a disciplina, a expressão corporal e o trabalho em equipe, incluindo a confiança em si mesmos e nos colegas.
Atualmente, vinte alunos de cinco a onze anos participam das aulas. E para quem duvida do interesse das crianças e seus pais, basta dizer que os participantes precisam desembolsar R$ 65 à parte da mensalidade. Mesmo depois de um dia inteiro de aulas, os pequenos têm energia de sobra para saltitar sobre o tatame em linha reta e de costas, engatinhar de barriga para cima com o apoio apenas dos pés e das mãos, deitar sobre a nuca com as pernas para cima, jogar malabares para o alto e equilibrar pratos giratórios sobre um palito.
Tudo sob o comando de dois professores – hoje professor Pedro já conta com um assistente para dar conta da demanda em alta.
Quer outro exemplo de interesse desses moleques? Mês passado, exatamente, dia 14, Lucca Augusto Neto completou 7 anos e, além da festa com os pais e colegas no Itatiaia, onde cursa o segundo ano do fundamental, ele ganhou a regalia de voltar mais cedo para casa. Mas, segundo a mãe, o garoto pediu para voltar ao colégio, pouco depois. "A gente estava fazendo a lição de casa e ele falou 'mãe, tem a aula de circo'", contou a administradora Vivian Carneiro Neto. Lucca começou as aulas de circo em 2011, quando se matriculou no colégio. "Acho que ele nunca se identificou tão bem na vida", afirmou a mãe.
Os pais seguem satisfeitos. Vivian explica que observou, durante o último ano, o desenvolvimento das habilidades psicomotoras do filho. O pai, apesar de muito protetor, nem sequer pensa na possibilidade de Lucca se machucar durante as aulas de circo. Para ele, como as crianças não praticam a corda de uma altura muito alta, as chances de se machucarem não é maior que em outras aulas da escola. "É a mesma chance de levar uma bolada", explica Augusto Neto.
As aulas diferem da educação física porque os objetivos pedagógicos são diferentes, diz o especialista. Elas estariam mais próximas dos treinos que os alunos costumam fazer no contraturno das aulas regulares. Mas, no caso do circo, as atividades não excluem os alunos de acordo com a habilidade em um determinado esporte. "No circo é o contrário, tem espaço para todo mundo", diz o diretor. "O menos habilidoso vai ter dificuldade para fazer malabares, por exemplo, mas pode ajudar a fazer figura coreográfica."
A faixa etária em que as aulas ganham mais popularidade são nos primeiros anos do ensino fundamental. De acordo com Gonçalves, diretor administrativo da trupe, uma idade apropriada para ensinar os conceitos por trás dos palhaços é no segundo ciclo do fundamental, na pré-adolescência e início da adolescência. "Quando a criança fica muito mais tímida, retrai um pouco no mundo dela, acha que tem alguma coisa que a sociedade impõe e ela não se enquadra, é aí que entra o trabalho do palhaço."
O professor Julio Micheletti Jr, dono da empresa de cursos de arte e cultura que oferece as aulas no Colégio Itatiaia, afirma que começou a oferecer atividades circenses há cerca de dois anos, aproveitando o aumento da procura de aulas de circo em academias e em escolas especializadas. Na época, diz, era preciso bater de porta em porta nas escolas para convencer a diretoria. "Hoje, elas procuram a gente", afirmou Micheletti.
Que lições nós pais devemos tirar? Acredito caro leitor, que as aulas de circo atraem porque oferecem uma atividade física sem os obstáculos do formalismo das academias e da competitividade dos treinos de modalidades esportivas. Fazer uma atividade prazerosa no trapézio tem o mesmo efeito para os músculos do abdômen que dez, quinze abdominais.
No entanto, o segundo está mais para tortura que deleite. Percebeu a diferença? Esse é o segredo! Quando ensinamos com prazer nossas crianças e adolescentes aprendem. Esse é nosso desafio!