Até onde vai o poder do cliente-aluno?

29 de outubro de 2013 \\ Osmando Barbosa

No dia a dia de professor, gestor escolar e pai, tenho percebido que a discussão em torno da perda de autoridade dos professores costuma ocorrer considerando a esfera familiar. Infelizmente, a maioria (ou pelo menos, boa parte) dos pais, com a intenção de proteger seus filhos ou quem sabe de medir forças com as autoridades escolares, tendem a não tolerar qualquer repreensão que possam sofrer dos representantes das instituições.
 
Porém, há outro lado, antes observado apenas nas instituições particulares: a própria escola (ou órgãos superiores como secretarias de educação municipais) passa por cima do professor, temendo perder seu cliente. Os alunos se transformaram em consumidores do produto que elas vendem, podendo reclamar se as expectativas não forem correspondidas.
 
Nas instituições públicas é muito comum os alunos ameaçarem os professores com a DIREC (no caso de instituições estaduais). No entanto, em relação ao ensino privado a situação é pior. Escutamos de algumas crianças que o pai paga e por isso o colégio tem que agir desta ou daquela forma. Atitude reforçada pelas famílias e aceita por muitas instituições.
 
Se há um exagero por parte dos pais, há certa submissão por parte de algumas escolas que, ao introduzirem a criança no ambiente social mais amplo, deixam de lado a importância do respeito à autoridade e, sobretudo, ao outro.
 
Não faltam situações nas mais diversas Unidades de Ensino (inclusive públicas) onde os diretores ou coordenadores ao ouvirem queixas dos alunos em relação a algum docente mais exigente, orientam seus clientesa lhes contar imediatamente se algo parecido voltar a ocorrer. E mais, garantem que caso não houvesse mudanças, o profissional será demitido, afinal “sua conduta foi inadmissível”.
 
Já vivenciei mães dizerem a docentes renomados que estes “talvez não servisse para este o ofício”.
 
Estranho... Até pouco tempo isso acontecia em relação aos alunos. Sem muitos esclarecimentos, diante de algum mal entendido, rapidamente eram julgados e tinham suas penas decretadas. Claro, isso também não era o correto, afinal antes apenas existia o professor e sua versão.
 
As crianças e os pais devem ser ouvidos em suas queixas. Porém, não é porque pagam uma mensalidade, ou porque uma Unidade de Ensino perderá seu porte (e verbas, consequentemente) que o colégio atuará de acordo com o que querem. Estabelecer uma parceria com a família não é isso. É ouvir sua clientela e melhor servi-la, mas dentro de parâmetros em que uma boa formação ocorre algo sobre o que a escola deve ser a que mais entende. Para cumprir seu papel, além de ensinar as diferentes matérias, a escola deve propiciar que o aluno se construa enquanto cidadão. Dentro de um contexto social, de coletividade, em que todos têm seus direitos e deveres.
 
Não é desautorizando o professor ou colocando espiões para que relatem contratempos que isso se dará. Se há ações condenáveis e aquele profissional não se enquadra, o melhor é dispensá-lo. Porém, quando se propicia a um grupo a discussão de suas dificuldades e a melhor forma de resolver seus problemas, todos crescem.
 
Já que muitas escolas são pagas, dar esse poder aos alunos é reforçar a ideia de que tudo se compra, sem que sejam colocados os devidos limites. Não é desta forma que as coisas ocorrem. Até porque ser responsável pela perda do emprego de alguém não é nada confortável. Principalmente para uma criança.
 
Claro que devemos contestar as instituições que educam nossos filhos e eles também devem fazer isso. Contudo, se nem as escolas garantem a autoridade de seus profissionais por medo de perder alunos, a educação vai de mal a pior.