O PIOR DA CRISE: DEMISSÕES INCESSANTES
Não importa que dados você use
para sua análise, uma coisa é certa: a crise não dá sinais de deixar nossa
economia em paz. Consequentemente, não há nada que indique estancamento ou até
mesmo arrefecimento do processo de demissões em curso. Com um resultado acima
do esperado pelos analistas do mercado financeiro, a taxa de desemprego do IBGE
ficou em 7,5% em julho. Mais surpreendente do que o
número geral foi a alta de 56% no número de desempregados no mês passado, em
comparação com o mesmo período em 2014. Um recorde, nunca antes visto pelos
analistas do Instituto.
A Pesquisa Mensal de Emprego das
seis regiões metropolitanas do país inclui na conta quem já perdeu o posto ou
quem não estava trabalhando, mas quer voltar para ajudar no orçamento de casa.
Este movimento revela a deterioração das condições financeiras das famílias.
Durante anos, muitos jovens foram poupados do trabalho para investirem nos
estudos – uma fórmula que não se sustenta mais com a inflação altíssima e queda
acentuada na produção, provocando redução da renda real dos
trabalhadores.
Em conversas com economistas de
instituições financeiras, surgiu uma leitura diferente sobre o quadro atual e
que ajuda a dimensionar o tamanho do ajuste ainda esperado (ou necessário) no
mercado de trabalho. Pegando a produção industrial brasileira, ela apresenta
hoje os mesmos níveis de produção de 2006, segundo analistas. Há 9 anos, o
Brasil começava a se beneficiar de um mundo pujante e fundamentos ajustados da
economia.
A taxa de desemprego em julho de
2006 era de 10,8%. O setor industrial crescia a 3%, com alta de 4,2% da renda
real dos trabalhadores e de 3,8% na formalização dos empregos – com carteira
assinada. Tirando o tombo de 2009, a produção local se manteve no azul e,
consequentemente, absorveu toda mão de obra disponível. O setor de serviços
também colaborou muito na empregabilidade do país, contratando sem parar para
atender a uma demanda cada vez maior. Tanto assim que em julho de 2010, a taxa
de desemprego já havia baixado para 6,9%, segundo IBGE.
Desde então, foi o setor de
serviços que seguiu derrubando a população desempregada no país porque na
indústria, as demissões começaram logo depois da bonança de 2010. O fechamento
de vagas no setor foi se acentuando a partir de 2013 e, neste primeiro semestre
do ano, ficou ainda mais intenso. Quem estava empregado no comércio ou na
prestação de serviços começou a sentir ameaça de perder o posto já no final de
2014, até que ela começou a virar realidade em 2015.
Hoje o país produz o mesmo que em
2006, mas com um contingente de funcionários muito maior. Com estoques cheios,
a retomada da produção ainda parece distante, portanto, não há como manter um
quadro de trabalhadores sem ter o que fazer. Por isso, a indústria passou a
demitir muito mais, principalmente depois do choque de custos imposto este ano.
A mesma situação atinge agora o setor de serviços, onde estão aqueles que
distribuem, armazenam, transportam e vendem o que sai das fábricas. Se os portões
seguem fechados, não há como manter o mesmo quadro de prestadores.
Se esta leitura do que está
acontecendo agora no mercado de trabalho se provar realista, o país ainda verá
muita gente voltando para casa sem boas notícias, com desalento de quem não
viu, não foi alertado e nem entendeu direito o que atingiu o país com a força
de causar tamanha crise.