Crise Internacional X Taxa de Juros

29 de agosto de 2011 \\ Osmando Barbosa

Qualquer observador mais atento já percebeu, no simples caminhar pelos grandes centros urbanos nacionais, que a economia brasileira já começa a dar sinais de recessão. O primeiro sintoma veio da indústria e chamou a atenção de poucos. No entanto, agora é a geração de empregos que começa a enfraquecer, indicando que o país reage com mais intensidade às medidas adotadas pelo governo para controlar a inflação e ao cenário turbulento da economia internacional.

Essa situação representa um dos maiores desafios à equipe econômica do governo. Grande parte do mercado já se agita na expectativa sobre qual será a atitude do Banco Central diante da crise mundial e da tarefa de levar a inflação brasileira de volta ao centro da meta de 4,5%.

O problema, caro leitor, é a conjuntura internacional. Com a crise externa, muda tudo. Se fosse este que vos escreve, o sujeito a tomar as decisões no BC não faria nada porque o amanhã está muito incerto. Contudo, se não tivéssemos passando por um período tão difícil na economia internacional seria um erro não reduzir a taxa de juros novamente, garantindo o aquecimento do comércio, a maior produção industrial e agrícola e, consequentemente, a geração de empregos.

Já disse nesse espaço e volto a repetir: tenho medo da inflação! Então, hoje meu principal objetivo seria alocar os recursos de forma a cumprir o centro da meta de 4,5% em 2012. Segundo a última pesquisa Focus realizada pelo BC, a estimativa para a inflação do ano que vem é de 5,23%. 5,23% seria um número muito elevado? Claro que não! Contudo, o problema com expectativas de inflação é que elas tendem a se elevar quando fica claro o não cumprimento das metas a ela ligadas. Se há um setor, de fato, nervoso é aquele controlado por especuladores internacionais: sua confiança garante uma boa avaliação econômica de uma nação, da mesma forma que seu descrédito, leva a ruína da mesma.

Pode ser uma opinião discutível, mas para mim vale à pena tentar o possível para cumprir o centro da meta de inflação no ano que vem. Iria até mais longe, caso errasse o faria para baixo, já que estamos alguns anos acima do centro do objetivo do BC. Ainda que essa tática exigisse um pouco mais de juros, o saldo final seria positivo, pois garantiria ainda mais credibilidade internacional ao país nas vésperas de dois eventos que só alcançarão sucesso se contarmos com essa credibilidade (Olimpíadas e Copa do Mundo vêm aí).

Aqui no Brasil temos um problema sério que afeta muitos (principalmente aqueles que lá estão há mais de 20 anos) setores do governo. Às vezes parece-nos haver no Planalto muitos que planejam taxas de inflação um pouco maiores imaginando que assim o país crescerá mais. Infelizmente, caro leitor, ainda temos no governo quem acredite em um dos mitos mais duradouros herdados da revolução keynesiana,  aquele que diz que crescimento econômico causa inflação e vice-versa.

A alegação de que o crescimento econômico provoca inflação de preços não apenas está errada, como representa exatamente o oposto da verdade. O preço de um bem é apenas a razão de troca entre notas da moeda corrente (no caso o real) e o bem em questão.

Assim, o que vai acontecer quando a quantidade à venda de algum bem ou serviço aumentar? Por exemplo, por que os trabalhadores franceses estão tão preocupados com os imigrantes vindos de ex-colônias que se mudam para seu território? Ora, o que os preocupa é o fato de que uma maior oferta de mão-de-obra leva a uma diminuição do salário. Você acha possível a frase: “... devido a um aumento substancial na quantidade de mão-de-obra, os economistas estão preocupados com o possível aumento que sofrerão os salários, tornando difícil para os empregadores manter suas margens de lucro".

E claro, o mesmo raciocínio é válido não independente do mercado que se analisa (serviços, produtos, mão-de-obra, insumos...). Ou seja, se um setor produzir cinco por cento a mais de coisas este ano em relação ao ano passado (e a demanda, destarte, se mantiver constante), esses itens estarão mais baratos para os consumidores, e não mais caros. Vamos raciocinar juntos: se você estiver pechinchando um DVD no “feiraguay”, e então outro vendedor chegar com um carrinho cheio de aparelhos iguais e também lhe oferecer seu produto, isso vai ajudá-lo ou atrapalhá-lo em suas negociações?

Voltando ao debate aqui levantado, não vejo aqui no Brasil um compromisso acima de qualquer suspeita com o controle da inflação.  É muito difícil isolar as lembranças de períodos como o “milagre econômico”, os “cinqüenta anos em cinco” de Juscelino, ou mesmo os três últimos anos de Sarney. Foram períodos que muita gente ganhou dinheiro, empresários dobraram seus lucros. Muitos ainda preferem investir naquele ultrapassado modelo de desenvolvimento tão danoso a nossa divisão de renda. Essa é uma ideia equivocada e essa mentalidade já custou muito caro para o Brasil. Na dúvida, então: que subam os juros!