Comemorar a Páscoa não é só Comer Chocolate
Nós cristãos celebramos, no último domingo, a Páscoa, ou seja, a Ressurreição de Jesus Cristo. Esta data, a mais importante do nosso calendário, por lembrar o renascimento, a vitória da vida sobre a morte, é marcada por tradições passadas de geração em geração: não comer carne vermelha, principalmente na quinta e sexta-feira que antecedem ao domingo de Páscoa, presentear quem amamos com ovos de chocolate (já apelidados de “ovos de páscoa”).
O costume de não comer carne no período da Quaresma ou durante a Semana Santa vem de muito tempo, sendo uma das principais penitências dos cristãos. “As diferentes culturas implicam em distintos tipos de penitência”, afirmou o arcebispo da Paraíba dom Aldo Pagotto. “Se alguém considera que tirar a carne das refeições é uma forma de ficar mais próximo de Deus, que faça”, afirmou Pagotto.
Mas, claro, comer carne nesse período não é pecado. “Apesar de ser um hábito piedoso, não pode ser motivo de deboche, pois a penitência vai depender da fé e do comportamento de cada pessoa”, destacou. O que importa, segundo o arcebispo, é se abster de algo que você goste muito. “Porém, de nada adianta fazer o jejum de determinado alimento e não ser solidário aos demais”, lembrou. O arcebispo criticou a postura de algumas pessoas que deixam de comer carne, mas se esbanjam em farto almoço regado a bacalhau e vinho. “Nesse caso, o pecado é pelo exagero”, disse.
De certa forma, fica claro que a Igreja Católica não obriga os fiéis a absterem-se da carne. “O peixe não é tão barato assim, por isso, até me omito diante disso. Seria cruel obrigar pessoas que às vezes passam por necessidades a comprar peixe”, declarou. De acordo com Pagotto, um jejum da fofoca e da palavra já seria de bom tamanho, “pois é preciso adequar a situação com a realidade local”. Há várias formas, disse, de fazer penitência, não podemos determinar uma regra.
No entanto, o que não faltam são pessoas que cumpriram a risca o jejum de carne (e por quarenta dias!). “Acho que é o mínimo que podemos fazer, em respeito ao sacrifício de Cristo”, declara uma dessas penitentes que não quis se identificar. Mas não é apenas isso. Esta católica praticante, membro do grupo do Rosário Permanente da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, há 10 anos, também faz jejum de acarajé, refrigerante, sorvete, chocolate, camarão e caranguejo e demais mariscos. “São alimentos que eu gosto muito, que como praticamente todos os finais de semana”, explicou. O jejum começou quando ela alcançou um pedido feito a Deus. “Desde então decidi fazer o jejum desses alimentos”, contou.
Para ela evitar estes alimentos apenas no período da Semana Santa é muito pouco. “Faço o jejum desde a quarta-feira de cinzas”, afirmou. E tem mais: se ela recebe ovos da Páscoa, o jeito é guardar para comer após o período do jejum. “Não se trata de uma promessa, mas de um voto que fiz a Deus, e sei que isso ainda é pouco”, comentou.
Apesar de ser mais raro a cada dia, ainda há quem deixe de varrer a casa na Semana Santa, pegar em dinheiro e até tomar banho. A origem dessas tradições curiosas é desconhecida, mas o arcebispo disse que não podem ser discriminadas. “Não deixa de ser uma penitência, uma forma de desapego às coisas”, declarou. Também é comum deixar de comer doces, tomar café, de coisas que para si são importantes. Consumir bebidas alcoólicas na Sexta-feira da Paixão não é uma atitude bem vista pelos cristãos. Em alguns locais essa tradição é tão forte que os bares nem abrem nesse dia. “O jejum é uma abstinência que se faz das coisas corriqueiras, sejam através da alimentação, do comportamento, etc”, afirmou o arcebispo. “As pessoas não podem ser ridicularizadas pela penitência que escolheu”, acrescentou. A Semana Santa, enfim, é tempo de reflexão.
A Páscoa representa um novo tempo, “no qual não deve existir ódio, pecado, rancor, vingança e violência”, complementou o arcebispo. A Páscoa também é lembrada pela instituição da Eucaristia, quando Cristo se reuniu com os apóstolos e dividiu o pão e o vinho, que passaram a representar o corpo e o sangue, entregues em sacrifício. “A Páscoa tem de ser vista como um sinal de libertação definitiva da morte, e não apenas como um período de comer ovos de chocolate”, ressaltou o arcebispo. Pagotto destacou ainda que a Páscoa não é uma representação, um teatro. “O ritual tem um significado importante, é uma nova chance de reviver, de recomeçar, de ser mais solidário com o próximo”, detalhou.
O período de reflexão para os cristãos católicos não se restringe ao Domingo de Páscoa. Cada dia da Semana Santa tem um significado próprio. Começando pelo Domingo de Ramos, que representa a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. “Ele chegou para doar a vida, para ser crucificado… o Domingo de Ramos tem significado da vitória, do amor que vence a morte e a condenação”, disse. Neste dia, há a aclamação para a vida, as pessoas aclamaram Cristo agitando ramos de oliveira, por isso, o Domingo de Ramos.
Na quinta-feira, a chamada Quinta-feira Santa, é celebrada a Ceia Pascal, a instituição da Eucaristia. “É o dia da missa de Lava-pés, que lembra Jesus lavando os pés de seus discípulos”, explicou Pagotto (quer maior exemplo de humildade Daquele que é Deus?). Para os católicos, o pão e o vinho representam a presença de Jesus Cristo. “É o momento mais sagrado que temos na missa, pois é o nosso encontro com o Senhor”, afirmou. A Sexta-Feira da Paixão é o dia da memória da via-sacra, “quando Cristo é jogado de um lado para o outro”.
A Sexta-Feira deve ser vivida pelos católicos com profundo respeito, mas não com luto pela morte de Cristo. “O amor não morre. A cruz, na realidade, representa a vida, o amor mais sublime que existe”, frisou o religioso. O sentimento deve ser de gratidão pelo ato de crucificação. O sábado é chamado de ‘Sábado de Aleluia’, o dia da Vigília Pascal, quando os santos são descobertos na Igreja Católica. “Temos uma missa longa, lendo trechos da bíblia desde a criação do mundo até as profecias de Cristo”, disse. O Domingo de Páscoa é o dia da Ressurreição, da vida eterna e deve ser celebrado com muita alegria.
Faça da sua vida uma Páscoa constante!