Discutindo a Metodologia no EAD
Iniciei minha experiência em EAD como aluno. Há três anos, iniciava, junto a mais de onze mil professores da rede estadual de ensino o curso que iria capacitar candidatos a gestores escolares. Participar desse curso acabou sendo muito importante para a função que assumiria alguns meses depois: a tutoria presencial do curso de licenciatura em matemática. Ter sido, inicialmente aluno ajudou-me, pois primeiro pude participar dos anseios, desejos e frustrações vivenciadas como aluno. Assim, iniciei meu trabalho como tutor pensando: “evitarei que os discentes do G-20 (grupo em que trabalho) passem as dificuldades pelas quais passei, principalmente no que tange à disponibilidade de informações importantes.
Apesar de estar inserido à cultura do EAD todo esse tempo, minha experiência como professor tem sido maior em educação presencial, tanto no Ensino Médio, como no Ensino Superior. Graças a essa experiência, me vejo capaz de caracterizar a tendência da educação brasileira como construtivista com ênfase na ideia interacionista de Vygotsky (1989) ou Paulo Freire (1983).
Os seguidores, como eu, dessa tendência vêem o aluno como construtor de seu conhecimento, ou seja, o ser que aprende (ou melhor, que constrói o conhecimento) transforma a realidade, e o faz pela ação e reflexão.
O professor, ainda segundo essa tendência, tem o papel de problematizador dessa realidade, conduzindo os discentes das formas mais primitivas da consciência para uma consciência crítica. Cabe ao professor indicar situações para desmistificar a tradição dominante, valorizando a cultura e a linguagem do aluno, que por sua vez, analisa o conteúdo criticamente e produz cultura.
O mais interessante nesse tipo de abordagem, em que se concebe a função do professor como a de criar situações favorecedoras de aprendizagem, é a percepção de que são os alunos que constroem o conhecimento através de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada vez mais autônomos intelectualmente.
Mas, e a educação à distância? Na EAD, o professor não está presente, realmente, mas a intervenção tem de ser feita via material didático, via chat, via tutoria. Assim, em EAD, entendo que é justamente essa intervenção que deverá criar a situação desafiadora, a qual o aluno responderá autonomamente, construindo sua autoaprendizagem.
São nos chats e fóruns específicos, portanto, que acontece o intercâmbio capaz de coordenar pontos de vista. Esses espaços garantem oportunidades de avanço, por gerarem conflitos cognitivos. Assim, se à distância o aluno autoaprende, pode ele próprio, concomitantemente, socializar esse conhecimento construído.
Ao professor do EAD caberia criar situações de aprendizagem. Ou seja, atividades planejadas e organizadas a partir da observação do processo de aprendizagem dos alunos; atividades planejadas e organizadas em função de algum material/texto específico; atividades organizadas a partir de propostas dos alunos; atividades organizadas em função de alguma situação ocorrida na interação estabelecida na aula; atividades (re)planejadas a partir de nossa reflexão sobre a prática.
E quem disse que não há afetividade ou relações pessoais no EAD? Tanto um quanto o outro, pode ser impulsionado pelos materiais e pelas atividades que permitem a comunicação e o intercâmbio entre os participantes.
Também não se pode negar que tanto na educação presencial, quanto na educação à distância, o professor atua conforme sua concepção do processo de ensino e aprendizagem. Assim, não há como generalizar sua ação, seu perfil, ainda que se possa generalizar seu papel, como o de ser mediador da ação educativa que ocorre no contexto aluno-conhecimento-tecnologia.
Por fim, é preciso que juntos derrubemos alguns mitos e crenças sobre educação à distância. Ainda hoje, para muitos educadores, (principalmente aqueles que nunca participaram de uma experiência em EAD), é grande a desconfiança de que ela seja uma educação de menor qualidade, ou para a qual é necessário um tipo diferente de professor.
No entanto, quem já participou deste tipo de experiência, sabe que a educação à distância é uma real possibilidade. Quanto a este que vos escreve, posso garantir que é uma boa solução tanto para a formação inicial, quanto à educação continuada.
Gostaria de concluir ilustrando que meu grande ídolo aqui na Terra, meu pai, participou de uma experiência em EAD há mais de 25 anos atrás. Na época, o mesmo participou e concluiu um curso em Teologia e as únicas ferramentas de que dispunha eram os correios (as atividades e avaliações eram enviadas pelo serviço postal) e o telefone. Logo, ainda que a cada dia surjam novas e sofisticadas ferramentas para a educação à distância, acredito que, mesmo com os mais simples recursos disponíveis, se possa fazer essa educação acontecer, até porque não são as máquinas e os programas que garantem a educação, mas ainda, e sempre, serão as pessoas o mais importante para que se ajude alguém a construir ou reelaborar conhecimento, seja no âmbito presencial ou à distância.