Por que não temos um bom Congresso?

06 de junho de 2011 \\ Osmando Barbosa

Morar no Brasil é assim... Não se passam nem 24 horas em que se ouça uma queixa dos políticos! Ora são incompeentes, ora desonestos. Estou tão acostumado, que já traga a resposta na ponta da língua: “cada povo tem o governo que merece”. Afinal, pense bem: quantos de nós, sequer sabemos, onde fica a sede do partido político em que votamos? E não é só isso. Não incentivamos os jovens a serem políticos, não ajudamos os mais competentes a se eleger, muito menos somos capazes de identificarmos quem poderia ser um bom político no futuro.
Faço aqui um desafio. Entreviste 100 universitários. Pergunte-lhes que profissão escolheram. Garanto que a maioria responderá administração, medicina, engenharia ou advocacia. Poucos dirão que pretendem seguir a carreira política. E sabe o que é pior? Dentre esses últimos, poucos são bons alunos! Tanto é assim, que a nota de corte do vestibular de sociologia e política é uma das mais baixas de todas as profissões. Na USP, por exemplo, é 76 contra 117 de medicina.
Algum leitor acha possível que algum país consiga tornar-se uma nação séria e respeitada se a carreira de política em sem solo não conseguir atrair seus melhores cidadãos? Claro que não! Desde Platão já havia essa constatação.
Aqui no país, tudo começou durante a ditadura militar. Durante esse período, a carreira de político deixou de ser interessante, atraindo poucos jovens, e por isso tivemos pouca renovação. A falta de renovação tamanha, que até hoje, Maluf é o maior ícone de PP! Precisamos repensar isso de forma urgente, porque, francamente, ninguém agüenta mais votar nas opções do passado.
Deplorar constantemente a qualidade de nossa classe política, sem fazer absolutamente nada para mudar esta situação, é uma atitude cínica e complacente de quem critica. Temos de fazer algo.
Existem excelentes políticos no congresso (alguém já leu uma linha sequer com acusações a Eduardo Suplicy? Duvido!), sem a menor dúvida, mas precisamos aumentar seu número. Como atrair nossos jovens, que atualmente preferem ser médicos e engenheiros, para que se tornem políticos competentes?
Seguimos tantos exemplos negativos dos norte-americanos... Que tal seguirmos finalmente um bom exemplo? Há trinta anos, os EUA criaram um programa chamado Pagers. Naquela ocasião, pager era um menino de recados, que levava bilhetes de lá para cá, neste caso entre Senadores e Congressistas americanos em plenário. Ser escolhido Pager era o máximo, uma honra e uma curtição.
Os detalhes vão mudando com tempo. Mas, uma coisa mantém-se constante. Da última vez que tive acesso a essa seleção, percebi que dos cinquenta jovens do primeiro colegial selecionados (pelos colegas entre os representantes de classe ou do grêmio) todos estavam entre os melhores de suas classes. Ou seja, participam do projeto, os alunos com as melhores notas acadêmicas das escolas de cada Estado americano. Após serem designados Pager, são todos enviados Washington, onde por três semanas, têm contato com a vida política e o dia a dia dos congressistas.
Nessas três semanas, entram em contato todos os líderes da política americana. Participam, de certa forma, dos bastidores do poder, ouvem as discussões e as fofocas de plenário e voltam à terra natal para serem substituídos por outros cinqüenta estudantes.
Muitos percebem que há algo muito bem mais nobre na vida do que ser médico ou engenheiro. Por isso, em vez de se tornarem grandes administradores, ou financistas, alguns desses melhores e brilhantes alunos optaram pela carreira de políticos e escolheram a faculdade apropriada.
No ano passado, analisando o currículo dos congressistas norte-americanos descobri que 10% destes e seus auxiliares diretos, eram ex-pagers. Portanto, alguns dos melhores alunos de cada Estado americano estavam lá, e haviam sido influenciados por aquela singular experiência como pager a mudar de carreira.
Por que não investir em um projeto tão útil e que custaria menos de 10.000 reais por mês em alojamento e alimentação, e outros tantos de passagem de avião? Por que a Fiesp não patrocina uma idéia semelhante? Economizaria para a nação bilhões em impostos a longo prazo.
Não precisamos seguir o programa ao pé da letra. Talvez algumas adaptações devessem ser feitas. Poderíamos enviar o melhor aluno junto com o mais politizado da classe. Assim, ambos aprenderiam um pouco do outro - o estudioso a ser mais político, e o político a ser mais estudioso. Não poderemos parar por aí. Dezenas de outras idéias terão de ser desenvolvidas e implantadas para ajudar a melhorar o atual quadro político. O que não podemos é cruzar os braços. Ou você, caro leitor, prefere continuar votando nos mesmos homens ano após ano?