Desemprego e Inflação em Debate
Demorou, mas infelizmente aconteceu. Era inevitável. O fraco desempenho de nossa economia alcançou, como esperado, a taxa de desemprego. Semana passada, foi divulgada pelo IBGE uma queda no emprego na indústria (menos 0,5% em maio).
O antagonismo entre um mercado de trabalho extremamente aquecido e a baixa produtividade; entre o aumento de renda dos trabalhadores e a queda do PIB potencial do país; foi primeiro um enigma para depois se transformar num gerador de distorções na macroeconomia brasileira.
O principal reflexo disso é a inflação como está hoje: longe da meta há muito tempo (de 4,5%), espalhada por vários setores, mais resistente à política monetária, muito suscetível à política fiscal. Ou seja, pressionada pelo aumento nos gastos públicos dos últimos anos.
Esse é um dos principais efeitos que o Banco Central pretende combater ao seguir aumentando a taxa de juros. Se sozinho o mercado não conseguiu se regular – ou seja, se mesmo crescendo pouco as empresas mantiveram nível de empregos (pelo menos até agora) – a mão bem visível (numa alusão ao grande Adam Smith) do Copom vai interferir nisso.
Ao subir os juros o BC vai provocar mais desaquecimento da economia. Mas já não está indo devagar? Sim, mas não o suficiente para alcançar todas as distorções presentes, como o baixo desemprego. Se tiver sucesso, este não será um processo curto e seus efeitos deverão ser sentidos um pouco mais à frente.
Tão importante quanto ter convicção de que vai mesmo controlar a inflação, o governo precisa encontrar – e mostrar – harmonia na condução das políticas escolhidas. O esforço para arrumar a casa agora será maior porque é preciso recuperar as expectativas, há muito deterioradas pelo andar da carruagem.
Ao que tudo indica, a conta já inclui aumentos sucessivos na taxa de juros, podendo levar a Selic a 9,5% a ano. O corte de gastos prometido pelo governo, de “até” R$ 15 bilhões, já não convence como medida capaz de, pelo menos, persuadir os agentes econômicos. Quiçá, para conduzir a economia para o lado positivo. E assim a conta cresce.
Com a inflação corrente rodando em 6,7% ao ano, a população já começou a pagar a conta.
Para combatê-la, o BC começou a subir os juros há dois meses, levando a taxa para os atuais 8,5%. Vai continuar subindo porque ainda não há segurança de que o movimento feito até agora será suficiente para trazer inflação para baixo. Grande ou média, a dose vai empurrar para baixo quem já está um pouco arriado.
O problema é sistêmico e cheio de variáveis. A própria inflação pode ser vista como um dos fatores por trás da desaceleração (alta do juros). Mas, este não é o único. Lá fora tem a perspectiva de redução do estimulo monetário pelo Fed (banco central) americano, tem as dificuldades na China e tem preços de commodities fraquejando. Aqui dentro, além do juro, tem as incertezas domésticas com as repercussões dos protestos sobre o cenário político. Nada disso ajuda a perspectiva de crescimento.
O pior é a possibilidade, levantada por muitos analistas, de que o Brasil registre crescimento negativo no terceiro trimestre do ano. A recuperação registrada nos primeiros seis meses não assegura continuidade. Com dúvidas de que o BC não aperte tanto nos juros para não jogar lama no PIB, já começaram as revisões para novas altas da taxa Selic.
Bem, este que vos escreve semanalmente, ainda não acha que abraçaremos a recessão em vésperas da Copa do Mundo. Mas, indubitavelmente, nosso um PIB trimestral próximo está comprometido e não deverá passar de 1%. No entanto, o maior problema que vejo hoje, são as perspectivas para 2014. Afinal, quanto mais fraco o ano termina, piores as expectativas para o ano que vem.