ELEIÇÕES 2014
Se o leitor fizer o exercício de investigar as páginas políticas das grandes revistas nacionais, verá que a pauta está reduzida a um único assunto: as eleições do ano que vem. No mais, tudo o mais é periférico. Há um debate, verdade, em torno do orçamento impositivo e muitos falam (mas, garanto que ninguém, de fato quer) em votar o voto secreto na Câmara e Senado. E a reforma política? Esta a cada dia ganha nova roupagem, mas nunca é o tema principal. A questão mesmo é a sucessão!
O PT acaba de eleger seu novo presidente. A expectativa de uma maior movimentação foi frustrada, mas a legenda ocupa essa semana o centro do noticiário. Resolvida esta questão interna, cabe agora ao PT vai conduzir as definições das alianças nos Estados. Todo mundo sabe que a palavra final é mesmo de Lula, mas a negociação será conduzida pelos presidentes dos partidos.
No PSB, o momento é de recuo de Eduardo Campos. Ele está fora do Brasil, dando um tempo nas movimentações, mas seus articuladores continuam a toda em Brasília.
Conversando, analisando pesquisas, mas, sobretudo, dando um tempo nas conversas sobre os palanques estaduais. Portanto, o adequado para os socialistas é esperar mais um tempo, novas pesquisas e até o começo do ano que vem. Assim, as próprias pesquisas poderiam ser o fator de aglutinação em torno da candidatura de Eduardo Campos. Isso é o que eles esperam.
No PSDB, o momento é diferente: é de muita conversa e definições de palanques nos Estados. Aécio Neves quer ter palanques fortes em Estados do Nordeste. A estratégia para a região é ter bons palanques para ajudar na soma dos votos em todo o país. Mas, principalmente, para reduzir a vantagem que Dilma Rousseff obteve na região na eleição de 2010. Para isso, ele contabiliza a força de Eduardo Campos em toda a região.
De público, Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, diz que a aliança de Eduardo Campos com Marina Silva reforça o campo da oposição e por isso é um fator positivo para sua candidatura. A esta altura, ele avalia, Campos não será mais uma candidatura de “linha auxiliar do governo e do PT”, mas sim de oposição. “Eles vão ter de se afirmar na oposição ao governo”, disse.
Mas, lá no fundo, a legenda deve estar bastante tensa, uma vez que, o desafio agora é se sustentar em segundo lugar na preferência do eleitor. Por isso mesmo, o tucano já trata do discurso que fará daqui em diante. Ele pretende se apresentar ao eleitor como um candidato que defende a mudança, é crítico do governo Dilma, mas que vem de um partido que já foi testado e obteve resultados no comando da economia.
“Nós somos a segurança da retomada do crescimento da economia, da estabilidade e do controle da inflação. Nós somos o porto seguro, um partido ousado e de gente moderna”, disse ele a deputados e senadores, na primeira reunião da bancada depois do lançamento da chapa Eduardo Campos e Marina Silva.
Como Campos também já tem feito críticas ao governo, Aécio diz que a campanha de 2014 será diferente das anteriores: não será, segundo ele, uma disputa de legados, mas para discutir o futuro. “Nós somos menos sonháticos e mais pé no chão”, disse.
A esta altura, Aécio revê também a estratégia da campanha. Até aqui, a ideia era a de ter palanques duplos nos Estados – ele e Eduardo Campos com o mesmo candidato ao governo no Estado. Agora, a situação muda. Segundo ele, o PSDB irá ao palanque do tucano e Eduardo ao do socialista – e não mais se apresentarão juntos para o eleitor. Cada partido receberá o seu candidato no Estado.
Isso vai exigir novas conversas nos Estados. Em Minas, por exemplo, PSDB e PSB pretendiam apoiar o mesmo candidato à sucessão de Antonio Anastasia. Mas, agora, o PSDB deve lançar candidato próprio e o PSB também.
No entanto, para muitos, está claro que o principal embate da campanha presidencial do ano que vem será entre a presidente Dilma Rousseff e a ex-senadora Marina Silva. Duas mulheres de personalidade forte e que decidiram se confrontar nesta corrida presidencial. Marina não perde oportunidade de dar uma alfinetada na presidente; e Dilma não disfarça e retruca. Tem sido assim e deve continuar assim até outubro do ano que vem.
As críticas de Marina começam provocar reações no governo. A dez dias, a presidente Dilma saiu a público para defender o chamado “tripé da economia”: meta de inflação, meta de superávit e câmbio flutuante. Marina Silva já vem falando sobre o assunto há algum tempo, como uma espécie de “vacina” para afastar eventuais temores de agentes econômicos caso esteja no condomínio vitorioso do ano que vem. Dilma, claro, saiu em defesa das medidas.
Outra mudança pode acontecer no campo político. O discurso de Marina é o da renovação, o que ela chama de “aposentar a velha República e fazer a política nova”. O governo e o PT não estão gostando nada de serem carimbados de comandantes da “velha política”. E ensaiam uma mudança de rumo. A primeira decisão foi baixar a ansiedade dos aliados e anunciar que vai ficar para o fim do ano a definição dos palanques de Dilma nos Estados. Muitos destes palanques com aliados apontados como representantes da “velha política”. Um deles, a família Sarney.
Dilma quer – e está comprometida – com o PMDB para a eleição do ano que vem. Mas o que falta é definir as alianças entre os dois partidos em vários Estados, como Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Sul e Bahia, onde os dois partidos já se estranham desde a eleição passada.
Difícil vai ser costurar a aliança sem incluir aqueles que estão sofrendo desgaste perante a opinião pública. E que alimentem o discurso de Marina “contra a velha política”.
Com tantas variáveis, está explicado porque o assunto “eleições 2014” não sai da pauta.