O injustiçado Maquiavel?

19 de junho de 2011 \\ Osmando Barbosa

Essa semana, precisamente dia 21, completa-se 484 anos da morte de um dos mais polêmicos autores do Renascimento: Maquiavel. Nascido em Florença, Itália, em três de maio de 1469, Nicolau Maquiavel foi historiador, poeta, diplomata e músico. Mas não foram nem as músicas, nem os relatos históricos que o tornaram famoso. Este italiano dedicou grande parte de sua vida ao desenvolvimento e entendimento das maneiras de governar e “manipular” o poder.
Do pouco que se sabe de sua infância, podemos apenas afirmar que aos sete anos, começou a estudar o latim e, posteriormente, estudou também o ábaco, bem como os fundamentos da língua grega antiga. Aos 12 anos, já era capaz de redigir em latim. Filho de um renomado advogado, e movido por um espírito inquisidor, o pequeno Nicolau teve acesso a uma boa educação.
Aos 29 anos, já músico e historiador, o destino muda os rumos de nosso personagem: Nicolau ingressa na vida pública exercendo um cargo de destaque na Segunda Chancelaria. Porém, com a brusca interrupção do governo italiano com a retomada do poder pelos Médicis - Maquiavel é demitido, torturado, preso e obrigado a pagar uma pesada multa. Maquiavel consegue livrar-se da prisão e impedido de retomar sua profissão passa a morar na propriedade que herdara do pai e avós, onde passa a escrever suas obras como O príncipe; Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio; o livro sobre A arte da guerra e por último sua História de Florença.
A partir daí a injustiça o persegue. Muitos acharam na época que o maquiavelismo personificava a imoralidade, o jogo sujo e sem escrúpulos e ainda o responsabilizavam por massacres e por toda a sorte de sordidez - não há tirano que não tenha sido visto como inspirado por Maquiavel. Já Rosseau em O contrato social afirma: “Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo. Nicolau fala ainda da virtù e da fortuna. A virtù é algo fundamental para se conseguir a fortuna - que para ele nada mais é que uma Deusa boa e ainda diz que a virtú é necessária para se manter no poder, poder este que se funda na força”.
Em O Príncipe, Maquiavel atesta a necessidade que têm todas as nações de um bom exército, pois é ele que garante o cumprimento das boas leis. Como sabemos a base de um Estado são as boas leis e o bom exército que pode ser próprio ou mercenário ou auxiliar ou, ainda misto. As tropas mercenárias ou mistas são perigosas e inúteis, pois só estão atrás do dinheiro e são incapazes de lutar em batalhas perigosas, pois não estão a fim de arriscar suas vidas pelo Estado.
Para ele, as nações devem cultivar a arte da guerra, pois é ela que o mantém no poder. Segundo Maquiavel para se manter no poder, um príncipe pode e deve tomar atitudes que apressam defeituosas ao invés de outras virtuosas, pois estas o levariam para a ruína, enquanto aquelas a uma situação de segurança e de bem-estar.
Assim, existiriam dois modos de combater: um com as leis, outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo dos animais. Tendo, portanto necessidade de proceder como animal, deve um príncipe adotar a índole ao mesmo tempo do leão e da raposa; porque o leão não sabe fugir das armadilhas e a raposa não sabe defender-se dos lobos. Assim, cumpre ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para amedrontar os lobos. Quem se contenta em ser leão demonstra não conhecer o assunto. Com isso Maquiavel fala que o príncipe deve usar mais a cabeça do que a força, ou seja tem que usar mais a esperteza da raposa do que a força do leão.
Maquiavel, ainda fala de como um príncipe deve cumprir suas promessas, para isso ele utiliza o exemplo de Alexandre VI que durante a vida só fez enganar os homens, só pensou nos meios de induzi-los em erros, e sempre achou oportunidades para isso. Nunca houve quem com maior eficácia e mais solenes juramentos soubesse afirmar uma coisa e que menos a observasse do que ele. Apesar disso, as suas tramóias sempre surtiram efeitos, porque ele conhecia bem aquele aspecto da humanidade. Com isso Nicolau diz que o príncipe não é obrigado a cumprir com suas promessas desde que seja conhecedor dos aspectos da humanidade, ou seja, conhecedor das necessidades do povo, assim sendo se ele for bem visto pelo povo - não aumentando impostos, nem tomando medidas arbitrárias um príncipe não é obrigado a cumprir com suas promessas.
Não é necessário a um príncipe ter todas as qualidades, mas é indispensável que pareça tê-las. Com isso ele controla o vulgo e todos que o cercam inclusive seus inimigos. Pois cada qual vê o que parecemos ser; poucos sentem o que realmente somos.
Para Maquiavel, um príncipe nunca deve usurpar os bens e as mulheres dos súditos, isso o tornaria malquisto ou desprezível para o vulgo. Além disso, o príncipe deve fazer com que o vulgo o respeite legitimando sua autoridade.
Segundo Maquiavel, o príncipe deve recompensar os indivíduos dedicados a negócios lucrativos e os que inventem maneiras de multiplicar os recursos da cidade ou do Estado.
O príncipe também deve garantir a distração ao povo com festas durante certas épocas do ano, com isso será bem visto por todos. Nicolau diz ainda em seu livro como é importante que um príncipe saiba escolher seus ministros, pois será julgado conforme sua escolha.
Maquiavel discorda ainda da demasiada importância que os antigos davam para a fortuna, deixando claro que a virtude, sim é indispensável.
O Príncipe foi escrito em 1513, mas só foi publicado em 1532. O livro está dividido em 24 capítulos e partiu da inspiração entre a união de Juliano de Médici e do Papa Leão X, em que o autor viu a chance de um príncipe finalmente unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros. Com a morte de Juliano em 1516, procurou estimular Lourenço de Médici II a realizar esta empreitada. Entendidas as razões, não serei eu julgá-lo..