PAULO FREIRE JÁ!

20 de abril de 2015 \\ Osmando Barbosa

Nas manifestações dos domingos (15/03 e 12/04), algumas poucas
 
faixas chamaram atenção por destoar demais dos valores de hoje, seja qual for 
 
a opção partidária. Entre elas, uma que dizia “Chega de doutrinação marxista, 
 
basta de Paulo Freire”.
 
Quem escreve isso certamente desconhece o valor desse grande mestre 
 
e filósofo pernambucano que revolucionou a educação brasileira ao introduzir o 
 
conceito de ensino por meio da problematização – justamente o oposto de 
 
doutrinação. Para a época, em meio ao regime militar, era algo altamente 
 
revolucionário, tanto que seus livros foram proibidos e ele foi exilado entre 1964 
 
e 1980.
 
Não é exagero dizer que a educação brasileira se divide entre antes e 
 
depois de Paulo Freire. Seu pensamento é reconhecido nas mais prestigiosas 
 
universidades do mundo. Hoje, não pode ser simplesmente reduzido a 
 
doutrinas políticas.
 
O que Paulo Freire propõe é a educação que nos torna mais livres, tão 
 
necessária para o cidadão do século XXI. Ele chama o ensino tradicional de 
 
sistema “bancário”: o professor, dono do saber, “deposita” conteúdos na 
 
cabeça do aluno. O estudante assimila o que pode e repete na prova. A aula é 
 
enfadonha, o aluno quase não fala, sente-se um estranho. A prova é um 
 
momento de tensão. Essa pedagogia perpetua a exclusão social, aliena, forma 
 
indivíduos passivos, não muda nada.
 
Freire propõe outra sala de aula. Nela, professor e aluno dialogam e 
 
aprendem uns com os outros. O estudante é instigado a pensar, descobre 
 
prazer no conhecimento. A aula é dinâmica. Os conteúdos são próximos da 
 
sua realidade, pertinentes para resolver problemas concretos da vida, 
 
importantes para a sociedade. A prova avalia quanto o aluno avançou e ajuda a 
 
corrigir deficiências.
 
Nessa pedagogia, o conhecimento é gerador de reflexão. Nada a ver, 
 
por exemplo, com as cartilhas de alfabetização da época, onde havia frases 
 
como “Ada deu o dedo ao urubu”. Freire diz: Isso é inverossímil, pois ninguém 
 
daria um dedo ao urubu; e é distante da realidade do aluno, não ajuda a dar 
 
significado a sua vida. Então, propõe trazer a cidadania para a escola. Em vez 
 
de “vovó viu a uva na fazenda do vovô”, estudar temas como “vida”, “salário”, 
 
“terra”, “mudança”.
 
Podemos ser, hoje, na escola ou em casa, mestres que coloquem em 
 
prática as ideias de Paulo Freire. Construir uma educação em que se viva o 
 
verdadeiro encontro, “no qual se solidariza o refletir e o agir dos sujeitos 
 
dirigidos ao mundo para transformá-los e humanizá-los”. 
 
Precisamos cada dia mais de mestres assim, como Freire imaginou: que 
 
façam da educação uma prática da liberdade, e não da opressão. Uma 
 
educação baseada no diálogo amoroso, consciente, respeitoso do que a 
 
criança vive e pensa. Porque o processo educativo é um laboratório do mundo: 
 
nele, pode-se aprender a aceitar as coisas do jeito que são, ou a sonhar com a 
 
construção de uma sociedade justa e solidária – essa que, ainda hoje, todos 
 
nós tanto queremos.