VIDA LONGA E PRÓSPERA!

23 de março de 2015 \\ Osmando Barbosa

Quem assistiu ao menos um episódio de Jornadas nas Estrelas, já
 
sentiu aquele saudosismo! Afinal essa era a frase emblemática do personagem 
 
mais marcante da série.
 
Leonard Nimoy era simplesmente a encarnação de um ser alienígena 
 
conhecido como Sr. Spock, cujo primeiro nome é impronunciável na nossa 
 
língua. Sr. Spock ocupava o cargo de oficial de ciências, lotado na nave 
 
Enterprise, a serviço da Frota Estelar. Tudo isso era retratado na série 
 
"Jornada nas Estrelas", que depois se desdobrou em longas metragens e um 
 
punhado de franquias e subprodutos que criaram um universo à parte. Bom, 
 
tudo isso não deve ser novidade para você, mas o que eu tenho para dizer 
 
pode ser.
 
O Sr. Spock chegou muito além do “aonde nenhum homem jamais 
 
esteve”. Como oficial de ciências, seu conhecimento e erudição 
 
impressionantes inspiraram (e talvez ainda inspirem) gerações de crianças e 
 
adolescentes que decidiram seguir carreira como cientistas. Eu posso dizer que 
 
fui um desses e tenho diversos amigos que também sofreram essa influência.
 
A postura fleumática, a análise fria dos fatos usando de argumentos 
 
científicos (reduzidos à lógica, no caso) é a postura esperada de um cientista, 
 
sem se deixar envolver pela emoção ou a irracionalidade de sentimentos ou 
 
circunstâncias. Ser um cientista combinava em ser um Sr. Spock! Ao menos 
 
para gerações e gerações de fãs.
 
A série em si serviu de inspiração e de estímulo para que muita gente 
 
optasse por uma carreira em ciências, não só física ou astronomia, mas 
 
também engenharia, computação e até biologia. Não é difícil encontrar 
 
programas na TV à cabo sobre físicos e engenheiros tentando reproduzir o 
 
mecanismo de “dobra espacial” usada na Enterprise. Quantos trabalhos eu já vi 
 
sobre formas de vida baseada em silício? Assunto novo? Nem tanto, a primeira 
 
referência a respeito disto que foi em um episódio de "Jornada nas Estrelas" 
 
que passou há uns 50 anos atrás, numa época em que a disciplina de 
 
astrobiologia (que estuda o assunto) seria considerada uma ‘biologia para 
 
marcianos’.
 
Você prefere celulares que dobram, os chamados ‘flip’? Agradeça 
 
"Jornada nas Estrela" por eles! Eles foram criados inspirados nos 
 
comunicadores da série! A NASA, na década de 1970, tinha um modelo em 
 
escala do ônibus espacial para ser usado em testes antes que a primeira 
 
missão fosse lançada. Por uma movimentação intensa de fãs, esse dublê foi 
 
batizado de Enterprise. Sabe onde foi usado o primeiro disquete e o primeiro 
 
pendrive? Em uma bancada do computador da Enterprise! Tudo bem que era 
 
um pedaço de madeira pintado, mas o conceito estava lá! Eu poderia citar uma 
 
lista imensa de artefatos modernos que foram desenvolvidos tendo como base 
 
as traquitanas mostradas na série. 
 
Ainda na época em que estudava Física no Ensino Médio (e eu em 
 
algum momento decidi estudar lógica por influência do Sr. Spock), li um artigo 
 
em que astrônomos americanos estavam buscando a estrela mais promissora 
 
para abrigar um planeta como Vulcano, o planeta natal do Sr. Spock. A minha 
 
memória não é das melhores, mas, se não me engano, o consenso havia sido 
 
a estrela Épsilon Eridani. Curiosamente foi descoberto recentemente que 
 
Épsilon Eridani poderia abrigar um planeta do tamanho de Júpiter e um 
 
cinturão de asteroides.
 
Não tenho como esconder minha tristeza: Nimoy e seu Spock deixaram 
 
muitas marcas. Talvez, por isso, só agora tive a coragem de me despedir de 
 
Nimoy (três semanas após a morte do ator que lhe deu vida ao eterno Spock). 
 
Passei meses treinando para fazer a saudação vulcana e anos para conseguir 
 
arquear as sobrancelhas de forma independente. Ainda prefiro ficar absorto 
 
nos meus pensamentos e considero ilógicas certas reações humanas. Mas eu 
 
consigo vê-lo na minha frente, fleumático e impassível, dizendo que é ilógico 
 
ficar triste, já que a morte é algo inevitável a todos. Daí, repito:
 
Vida longa e próspera!