VIDA LONGA E PRÓSPERA!
Quem assistiu ao menos um episódio de Jornadas nas Estrelas, já
sentiu aquele saudosismo! Afinal essa era a frase emblemática do personagem
mais marcante da série.
Leonard Nimoy era simplesmente a encarnação de um ser alienígena
conhecido como Sr. Spock, cujo primeiro nome é impronunciável na nossa
língua. Sr. Spock ocupava o cargo de oficial de ciências, lotado na nave
Enterprise, a serviço da Frota Estelar. Tudo isso era retratado na série
"Jornada nas Estrelas", que depois se desdobrou em longas metragens e um
punhado de franquias e subprodutos que criaram um universo à parte. Bom,
tudo isso não deve ser novidade para você, mas o que eu tenho para dizer
pode ser.
O Sr. Spock chegou muito além do “aonde nenhum homem jamais
esteve”. Como oficial de ciências, seu conhecimento e erudição
impressionantes inspiraram (e talvez ainda inspirem) gerações de crianças e
adolescentes que decidiram seguir carreira como cientistas. Eu posso dizer que
fui um desses e tenho diversos amigos que também sofreram essa influência.
A postura fleumática, a análise fria dos fatos usando de argumentos
científicos (reduzidos à lógica, no caso) é a postura esperada de um cientista,
sem se deixar envolver pela emoção ou a irracionalidade de sentimentos ou
circunstâncias. Ser um cientista combinava em ser um Sr. Spock! Ao menos
para gerações e gerações de fãs.
A série em si serviu de inspiração e de estímulo para que muita gente
optasse por uma carreira em ciências, não só física ou astronomia, mas
também engenharia, computação e até biologia. Não é difícil encontrar
programas na TV à cabo sobre físicos e engenheiros tentando reproduzir o
mecanismo de “dobra espacial” usada na Enterprise. Quantos trabalhos eu já vi
sobre formas de vida baseada em silício? Assunto novo? Nem tanto, a primeira
referência a respeito disto que foi em um episódio de "Jornada nas Estrelas"
que passou há uns 50 anos atrás, numa época em que a disciplina de
astrobiologia (que estuda o assunto) seria considerada uma ‘biologia para
marcianos’.
Você prefere celulares que dobram, os chamados ‘flip’? Agradeça
"Jornada nas Estrela" por eles! Eles foram criados inspirados nos
comunicadores da série! A NASA, na década de 1970, tinha um modelo em
escala do ônibus espacial para ser usado em testes antes que a primeira
missão fosse lançada. Por uma movimentação intensa de fãs, esse dublê foi
batizado de Enterprise. Sabe onde foi usado o primeiro disquete e o primeiro
pendrive? Em uma bancada do computador da Enterprise! Tudo bem que era
um pedaço de madeira pintado, mas o conceito estava lá! Eu poderia citar uma
lista imensa de artefatos modernos que foram desenvolvidos tendo como base
as traquitanas mostradas na série.
Ainda na época em que estudava Física no Ensino Médio (e eu em
algum momento decidi estudar lógica por influência do Sr. Spock), li um artigo
em que astrônomos americanos estavam buscando a estrela mais promissora
para abrigar um planeta como Vulcano, o planeta natal do Sr. Spock. A minha
memória não é das melhores, mas, se não me engano, o consenso havia sido
a estrela Épsilon Eridani. Curiosamente foi descoberto recentemente que
Épsilon Eridani poderia abrigar um planeta do tamanho de Júpiter e um
cinturão de asteroides.
Não tenho como esconder minha tristeza: Nimoy e seu Spock deixaram
muitas marcas. Talvez, por isso, só agora tive a coragem de me despedir de
Nimoy (três semanas após a morte do ator que lhe deu vida ao eterno Spock).
Passei meses treinando para fazer a saudação vulcana e anos para conseguir
arquear as sobrancelhas de forma independente. Ainda prefiro ficar absorto
nos meus pensamentos e considero ilógicas certas reações humanas. Mas eu
consigo vê-lo na minha frente, fleumático e impassível, dizendo que é ilógico
ficar triste, já que a morte é algo inevitável a todos. Daí, repito:
Vida longa e próspera!